Sérgio Oliveira: Trabalhismo, ontem e hoje – do PTB ao PDT
Neste texto estão reunidos depoimentos de personalidades diversas da vida pública brasileira explicando os fatos, mostrando que o PTB antigo, pré-64 – o fundado por Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, entre outros - nada a ver com o novo PTB, pós-64, fruto da articulação do general Golbery com a justiça eleitoral em benefício de Ivete Vargas.
Vejamos os fatos:
Sergio Zambiasi (ex-senador do PTB do Rio Grande do Sul ), em artigo intitulado “Por que apoio Brizola”, publicado no “Jornal do PDT” de agosto de 1989, na página 4, escreveu no último parágrafo:
" E o PTB do Rio Grande do Sul está nesta luta. Todas as suas lideranças, os vereadores entraram com forte propósito de apoiar Brizola, porque nós entendemos o seu trabalho, o respeitamos, e quando era do PTB antigo foi o melhor governador que tivemos. Por isto, temos agora a obrigação de devolver a ele tudo o que Brizola fez pelo Rio Grande do Sul."
Pulando para o episódio que detonou o escândalo do mensalão, a ligação do então deputado Roberto Jefferson com o assessor dos Correios Mauricio Marinho, aquele flagrado por uma câmara oculta recebendo o que Jefferson definiu domo “peteca” (pequena quantia de dinheiro da corrupção), o advogado e jornalista Bension Coslovski entrou com representação na Câmara dos Deputados contra Jefferson, questionando suas atitudes, elencando 28 episódios em que esteve diretamente envolvido, e citou como primeiro o fato dele se "orgulhar de ter sido um dos fundadores do novo Partido Trabalhista Brasileiro, nos idos de 1981/82."
Notem bem: Zambiasi se referiu ao "PTB antigo", o de Vargas, Goulart e Brizola; ao passo que Coslovski cita o " novo Partido Trabalhista Brasileiro ", fundado por Ivete Vargas. Ou seja, apenas a sigla é a mesma. Já na peça “Bailei na Curva” de Julio Conte e outros, muito famosa no Sul, há uma personagem, a Gabriela, que, num texto é apresentada como “pessoa que sonha ser médica e o pai é sindicalista ligado a tradição popular do antigo PTB de Brizola".
Tem mais: o jornalista Carlos Castelo Branco, que por mais de 20 anos escreveu a coluna política do “Jornal do Brasil”, na época da fundação do PTB atual, o novo, no artigo intitulado “O PTB de hoje não é o PTB de ontem”, disse, no último parágrafo: “ Três adesões foram decisivas para gerar o novo PTB, o PTB não getulista: Jânio Quadros, em São Paulo, que no passado teve o apoio de quase todos os partidos menos do PTB; Sandra Cavalcanti, herdeira do lacerdismo; e Paulo Pimentel, egresso do sistema de Ney Braga, fundador e secretário geral do PDC. Com isso o PTB ganhou viabilidade eleitoral mas perdeu seu vínculo com o passado. A legenda tem outra destinação e outro futuro que não são os de restabelecer a pálida reminiscência do prestigio de Getúlio Vargas e João Goulart."
Na mesma época, a revista “Veja” de 14.05.80, publicou matéria sob o título “PTB sob medida”, com o subtítulo “O procurador ajudou Ivete que ajuda o governo” GOVERNO, que afirma: "Sigla tirada de Brizola foi dada à Ivete Vargas, com a ajuda de Golbery e do procurador geral da Justiça Eleitoral, Firmino Ferreira Paz ".
Ainda sobre o episódio, o ex-deputado Helio Duque e ex-senador, em artigo intitulado “Um Testemunho”, publicado no mesmo ano, em determinada altura afirma: "Leonel Brizola preparou-se para reorganizar o PTB, mas foi vitimado por Golbery que, autoritariamente, entregou, via Justiça Eleitoral, a sigla à Deputada Ivete Vargas, cujo marido, Paulo Martins, trabalhava para o "bruxo". Diante do golpe, Brizola criou o PDT."
Por sua vez o ex-deputado Sinval Boaventura, em entrevista ao Jornal “Opção”, ante a pergunta “é verdadeira a história de uma reunião na casa do então deputado Simões da Cunha, na qual a deputada Ivete Vargas (PTB) teria contado que saíra de um encontro com o general Golbery e este revelou que ia projetar o sindicalista Lula para ser o anti-Brizola?”, ele respondeu:
“A Ivete Vargas disse que tinha estado com o ministro Golbery, na chácara dele, e que ele dissera que precisava trazer o Brizola para o Brasil porque ele estava se tornando um mito muito forte fora do país. Que era melhor ele voltar e disputar eleição, porque assim perderia o prestígio político. Fui ao Golbery e ele confirmou a conversa com Ivete. Explicou que sua estratégia era estimular a imprensa para projetar o Luiz Inácio da Silva, o Lula, um grande líder metalúrgico de São Paulo como uma liderança inteligente e expressiva, para ser preparado como o anti-Brizola. Sou testemunha dessa tese do general Golbery”.
Já o jornalista Mauro Santayana, um dos mais respeitados do país, em artigo sobre Brizola, tão logo ocorreu a sua morte, escreveu a determinada altura: "Mas antes de se esvair, o regime de 64 conseguiu seu maior triunfo contra o Trabalhismo, roubando a sigla do Partido Trabalhista Brasileiro de seu herdeiro legítimo, Leonel Brizola, que retornava do exílio. O "PTB" perdeu sua profundidade histórica e o próprio lastro trabalhista, virando hoje, um "nome fantasia" como outro qualquer."
Outro depoimento importante foi o feito em 29.05.2005 pelo ex-deputado Léo de Almeida Neves, do Paraná, no artigo “Trabalhismo Autêntico”, publicado no “Jornal do Brasil”. Nele o dirigente do PDT de Curitiba (presidente em exercício), afirma em determinado trecho: “Embora as administrações militares seguintes a Castelo Branco tivessem alguma semelhança na área econômica com as diretrizes governamentais de Vargas e Goulart (fortalecimento das estatais, criação da Embrapa e da Embraer), seria profundamente ultrajante aos militares o ressurgimento do trabalhismo no governo central, uma vez que haviam derrubado Vargas em 1945, encurralando-o em 1954 e deposto Goulart em 1964. Com essa ótica, entrou em ação o mago do regime, o estrategista General Golbery do Couto e Silva. Houve tolerância para as reivindicações operárias do ABC paulista, conduzidas por Luiz Inácio Lula da Silva, e ao robustecimento de um sindicalismo sem compromissos com o Trabalhismo, e desvinculado de Brizola. Depois, serviram-se da ex-deputada Ivete Vargas, cujo marido trabalhava para Golbery, a fim de aprovar um simulacro de partido de apoio ao sistema vigente, já nos seus estertores. Manobrando com a frágil Justiça Eleitoral da ocasião, conseguiram registrar um artificial PTB, solidário ao governo inclusive nas votações no Congresso”.
Léo de Almeida Neves foi diretor do Banco do Brasil, também secretário do velho PTB no Paraná - quando o Senador Souza Naves era presidente regional, e chegou a vice-presidente nacional da legenda. Também foi Deputado Estadual pelo Paraná e, em 1966, o Deputado Federal mais votado pelo MDB do Paraná. Foi cassado em 13.03.69, voltou a política e hoje preside o PDT de Curitiba.
Ainda sobre as questões PTB x PDT, o jornalista Sergio Gobetti escreveu no “Estado de São Paulo” de 6.10.2006: "O PTB já foi motivo de inúmeras disputas, como a da ex-deputada Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, com o ex-governador Leonel Brizola. O Líder trabalhista, quando voltou do exílio, tentou ficar com a sigla, mas quem levou a melhor foi Ivete. Embora o atual PTB não tenha vínculo político e ideológico com o velho trabalhismo, continua lucrando com a popularidade da sigla, que só perde em antiguidade para o nome do PCB (Partido Comunista Brasileiro), de 1922".
Todos esses fatos elencados nos levam a concluir: o PTB antigo, para os pedetistas, é o PDT de hoje, fundado por Brizola, que foi um dos fundadores do PTB antigo.
(*) Sérgio Oliveira é militante do PDT de Charqueadas (RS)
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