1945 - QUEREMISMO
Em 28 de janeiro de 1942, data de encerramento da Reunião de Chanceleres do Rio de Janeiro, o Brasil anunciou o rompimento de relações diplomáticas com os governos alemão e italiano, o que provocou, nos sete meses seguintes, o torpedeamento de 19 navios mercantes brasileiros por submarinos alemães, causando a morte de centenas de pessoas. Tais fatos indignaram a população de tal forma que esta se mobilizou em favor da entrada do país na Segunda Guerra Mundial para combater os exércitos nazi-fascistas lado a lado com os Aliados, e em atendimento a esse clamor público o Brasil decretou o estado de beligerância (22 de agosto), e a seguir o estado de guerra (31 de agosto de 1942) contra a Alemanha e a Itália.
O imprevisto no caso foi que essa decisão também deu início ao esfacelamento da ditadura getulista - o chamado Estado Novo - pois a evidente contradição entre lutar a favor da liberdade na Europa, e manter um governo opressivo no país, gerou e animou a deflagração de movimentos civis reivindicando o retorno da nação ao regime democrático. Assim foi que em outubro de 1943 divulgou-se o “Manifesto dos Mineiros”, carta-aberta em que intelectuais, políticos e personalidades importantes daquele estado defendiam a restauração da democracia; logo depois, em dezembro, uma passeata organizada em São Paulo por estudantes que reclamavam os mesmos direitos, foi duramente reprimida pela polícia, o que deixou um saldo considerável de mortos e feridos; no segundo semestre de 1944 iniciou-se a articulação da UDN (União Democrática Nacional), agremiação liberal de oposição ao regime; e em janeiro de 1945, durante o 1º Congresso Brasileiro de Escritores, os intelectuais presentes manifestaram-se vigorosamente a favor de eleições diretas para a Presidência da República.
Percebendo que pouco a pouco um novo sentimento de cidadania ia empolgando a população, Getúlio Vargas pretendeu colocar-se à frente desse movimento, e para isso autorizou uma série de providências. Primeiramente determinou, em fevereiro de 1945, que a eleição presidencial reiteradamente solicitada por personalidades respeitadas e respeitáveis, fosse realizada em 2 de dezembro do mesmo ano; em seguida, concedeu anistia ampla a todos os condenados políticos; libertou os comunistas que se encontravam na cadeia, entre eles Luis Carlos Prestes; permitiu que os exilados retornassem ao país; liberou não só a organização de diversos partidos políticos, mas também a legalização do Partido Comunista, até então vivendo na clandestinidade.
Os políticos não perderam a oportunidade que lhes era dada: fundaram suas agremiações e lançaram quatro candidatos à presidência: general Eurico Gaspar Dutra, pelo PSD; brigadeiro Eduardo Gomes, pela UDN e PL; Yedo Fiúza, pelo PCB; e Álvaro Rolim Teles, pelo PAN. No decorrer da campanha eleitoral, Getúlio Vargas não demonstrava intenção de lançar sua própria candidatura, e por isso mostrava-se aparentemente favorável à do general Dutra. Mas fortalecido pelo prestígio que desfrutava junto aos trabalhadores urbanos, ele estimulava, às escondidas, a criação de um movimento popular destinado a pedir sua permanência no poder. Foi assim que aconteceu em São Paulo, entre março e maio de 1945, a manifestação a que deram o nome de “panela vazia”, a primeira realizada em defesa de sua permanência no governo.
Ainda nesse mês de maio, a cidade do Rio de Janeiro serviu de palco ao lançamento oficial do movimento queremista, cujos integrantes reivindicavam basicamente o adiamento das eleições e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, mas exigiam o lançamento da candidatura Vargas caso o pleito fosse confirmado para a data estipulada. Reforçando esse posicionamento getulista, o Partido Comunista Brasileiro (PCB), recém-legalizado após anos de clandestinidade, manifestou seu apoio a essa proposta, o mesmo acontecendo com outros segmentos sociais. Foi quando se expandiu a pregação do queremismo (Queremos Getúlio), orientada pelos trabalhistas e apoiada pelos comunistas.
Até o final do primeiro semestre de 1945 a movimentação política tivera como pano de fundo a campanha eleitoral, mas no início do segundo semestre o enfoque passou a ser a constituinte, com reunião prevista para depois da eleição presidencial de 2 de dezembro. Foi quando se expandiu a pregação do queremismo (“Queremos Getúlio”, ou “Constituinte com Getúlio”), orientada pelos trabalhistas e apoiada pelos comunistas. Em pouco tempo a pretensão dos queremistas chegou a outras regiões, onde foi conquistando um número cada vez maior de adeptos, a tal ponto que já em agosto, setembro e outubro, grandes manifestações públicas passaram a ser realizadas em lugares diferentes, atraindo multidões de entusiasmados seguidores do presidente em exercício. Nessa altura dos acontecimentos, Getúlio Vargas começava a dar mostras de que realmente pretendia continuar à frente do governo.
Até que em outubro de 1945, um comício pró-getulista marcado para o dia 27 foi proibido por João Alberto Lins de Barros, chefe de polícia do Distrito Federal (na época, a cidade do Rio de Janeiro). Getúlio Vargas não gostou da proibição e reagiu substituindo Lins e Barros pelo seu irmão, Benjamim Vargas, o que foi interpretado pelos adversários como uma manobra preparatória visando sua continuidade no poder. A partir desse episódio a situação política se agravou de tal forma que o Alto Comando do Exército preocupou-se com a situação e por isso reuniu-se no dia 29 com o Ministro da Guerra, general Góes Monteiro, resultando daí a deposição de Getúlio Vargas da Presidência da República, sendo esta entregue, em seguida, ao presidente do Supremo Tribunal Federal, José Linhares.
Nas eleições realizadas em 2 de dezembro, o vencedor foi o general Eurico Dutra, que obteve 3.251.507 votos. O brigadeiro Eduardo Gomes conseguiu 2.039.342 votos, enquanto Yedo Fiúza e Álvaro Rolim Teles chegaram aos 569.818 e 10.001 votos, respectivamente.
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